Há males que vêm por bem
O ano de 2025 não começou da forma como eu pensava que iria começar. A verdade é que, depois de um ano complicado, com muitos desafios a nível profissional e pessoal, tinha a convicção de que 2025 seria um ano para conseguir atingir alguns objetivos - viajar, comprar uma casa e sentir-me mais leve.
Tudo isso foi abalado pela notícia de que o nosso departamento ia ser fechado. Numa mísera reunião de nem 10 minutos, online, anunciaram o fim de um projeto que ainda nem tinha aprendido a falar e a andar como deve ser. Um projeto do qual eu fazia parte desde o primeiro dia, mas do qual não posso dizer que me orgulhava por aí além, por várias razões (que é melhor não partilhar aqui).
E assim foi. Ficámos dois meses há espera de saber qual seria o desfecho, ainda empregados mas sem funções, e na semana antes do Natal, fecharam-se os acordos e lá fomos nós, cada um à sua vida. Confesso que foi algo inédito para mim, uma primeira vez que acredito não irei esquecer tão depressa. Tendo os meus vinte e oito anos e, a trabalhar desde os dezoito, já passei por várias peripécias a nível profissional, no entanto, acho que esta leva o prémio, sem dúvida. Não por ser algo que não acontece a mais ninguém, porque infelizmente é mais habitual do que aquilo que se calhar achamos, mas pela forma como tudo foi tratado e também, por ter sido na empresa onde foi.
Mas cada vez mais acredito que, na vida, tudo acontece por uma razão. Ou pelo menos, tento ver as coisas deste prisma, porque a verdade é que eu estava muito infeliz e insatisfeita naquele trabalho, naquela empresa, naquele ambiente. E como há males que vêm por bem, esta coisa que tinha tudo para ser negativa, está a demonstrar ser algo positivo e até, transformador para mim.
Decidi parar. Para respirar, para pensar, para refletir, para sentir. Tudo aquilo que não tenho feito como deve ser nos últimos anos. A verdade é que tenho-me deixado levar pela vida, no que toca ao meu percurso profissional. Recentemente, até comentei com a minha psicóloga que, parece que andei a fugir daquilo que realmente quero fazer durante estes anos todos. Por medo, por ansiedades e inseguranças, deixei-me levar e passei a acreditar que só consigo ser uma coisa, ou fazer uma coisa.
Decidi então pegar nesta situação e de a tentar transformar numa oportunidade. Uma oportunidade para me conectar novamente com a parte de mim que está sempre presente, mas muitas vezes, adormecida. Empurrada bem para o fundo de mim e deixada sozinha, que assim é que está bem. A arte, a escrita, um mundo mais criativo e mais instável, sem dúvida. Mas do qual eu sempre gostei e no qual nunca investi a sério. Agora, é o momento. Devagar, com calma, estou a fazer pequenas coisas que me trazem de volta às minhas origens e acima de tudo, pela primeira vez em dez anos, sinto-me mais perto daquela menina de dezoito, que correu atrás de um sonho contra tudo e contra todos.
Aquela Alexandra destemida, que escolheu a sua paixão e foi em busca dela para outro país. É certo que não correu como ela esperava, mas a verdade é que, na altura, foi uma escolha dela e fazia sentido. E desde então que tal não tinha acontecido.
Pois agora, é o momento. Devagar, com mais cautela do que quando tinha dezoito anos, mas a tentar trazer de volta um pouco dessa menina destemida, que se permitia sonhar, falhar e ao fim do dia, erguer-se novamente para enfrentar o que dali viesse.