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Ponto, Parágrafo, Travessão

As várias versões de mim - todas elas, hoje, sorriem

Alex, 24.03.25

Começo este texto por dizer que, desde a última vez que escrevi, muita coisa aconteceu. E no entanto, nada disso é a desculpa pela qual fiquei algum tempo sem cá vir deixar umas palavras.

A verdade é que, entre preocupações, o dia a dia, séries, filmes, livros e tantas outras coisas, acabei por deixar um bocado de lado este cantinho, que é ainda tão recente, na verdade.

Mas o tópico do texto de hoje, é outro. 

Ás vezes não consigo deixar de sentir que já vivi muitas vidas numa só. Talvez este seja um sentimento comum a muitos outros (partilhem, se assim acharem por bem fazê-lo), mas a verdade é que, tendo vivido apenas 28 anos (a um mês e meio de completar os 29), o sentimento é muitas vezes esse. 

Já fui tanta coisa, existem tantas versões de mim dentro de mim, que às vezes, fica um pouco confuso. Já fui a filha única que brincava sozinha em casa e com o primo durante as férias de verão. Já fui a irmã mais velha, que evitava depois brincar com a mais nova porque as barbies e as bonecas já não eram brincadeiras de uma menina de dez anos. Já fui a pré-adolescente que tirava boas notas e tinha acne e poucos amigos, e a adolescente que fazia coisas menos aconselháveis, com muitos amigos mas (muitos) pouco verdadeiros. 

Depois fui a jovem destemida, sem medos, que embarcou num avião aos dezanove anos para ir estudar a sua paixão, na terra do sunday roast e do fish and chips. Fui a jovem triste, com saudades de casa, sozinha, desamparada. Que lutava todos os dias contra a vontade de desistir e regressar à sua casa. Também fui a jovem que regressou, aos vinte e três, cansada e derrotada. 

Fui a jovem jornalista estagiária, e depois, quando isso não resultou, fui a jovem que trabalhou num call center. No meio disso, fui a jovem que se apaixonou por uma mulher incrível, e que começou a construir uma vida a dois (e depois a quatro, com dois felinos fofinhos). 

A mulher, que no desespero, foi atrás de pessoas e não de sonhos, de vontades. 

Hoje, sou a mulher que vos escreve, tão feliz, mas tão feliz, que não sei como cabe em mim tamanha felicidade. A jovem mulher que está prestes a embarcar numa nova etapa da sua vida. Orgulhosa, ainda um pouco incrédula, e muito grata. 

E com todas estas versões de mim, dentro de mim, de uma coisa tenho a certeza: todas elas estão neste momento a olhar para mim, a sorrir, e a dizer - caraças, Alexandra...conseguiste. 

Há males que vêm por bem

Alex, 03.02.25

O ano de 2025 não começou da forma como eu pensava que iria começar. A verdade é que, depois de um ano complicado, com muitos desafios a nível profissional e pessoal, tinha a convicção de que 2025 seria um ano para conseguir atingir alguns objetivos - viajar, comprar uma casa e sentir-me mais leve. 

Tudo isso foi abalado pela notícia de que o nosso departamento ia ser fechado. Numa mísera reunião de nem 10 minutos, online, anunciaram o fim de um projeto que ainda nem tinha aprendido a falar e a andar como deve ser. Um projeto do qual eu fazia parte desde o primeiro dia, mas do qual não posso dizer que me orgulhava por aí além, por várias razões (que é melhor não partilhar aqui). 

E assim foi. Ficámos dois meses há espera de saber qual seria o desfecho, ainda empregados mas sem funções, e na semana antes do Natal, fecharam-se os acordos e lá fomos nós, cada um à sua vida. Confesso que foi algo inédito para mim, uma primeira vez que acredito não irei esquecer tão depressa. Tendo os meus vinte e oito anos e, a trabalhar desde os dezoito, já passei por várias peripécias a nível profissional, no entanto, acho que esta leva o prémio, sem dúvida. Não por ser algo que não acontece a mais ninguém, porque infelizmente é mais habitual do que aquilo que se calhar achamos, mas pela forma como tudo foi tratado e também, por ter sido na empresa onde foi. 

Mas cada vez mais acredito que, na vida, tudo acontece por uma razão. Ou pelo menos, tento ver as coisas deste prisma, porque a verdade é que eu estava muito infeliz e insatisfeita naquele trabalho, naquela empresa, naquele ambiente. E como há males que vêm por bem, esta coisa que tinha tudo para ser negativa, está a demonstrar ser algo positivo e até, transformador para mim. 

Decidi parar. Para respirar, para pensar, para refletir, para sentir. Tudo aquilo que não tenho feito como deve ser nos últimos anos. A verdade é que tenho-me deixado levar pela vida, no que toca ao meu percurso profissional. Recentemente, até comentei com a minha psicóloga que, parece que andei a fugir daquilo que realmente quero fazer durante estes anos todos. Por medo, por ansiedades e inseguranças, deixei-me levar e passei a acreditar que só consigo ser uma coisa, ou fazer uma coisa. 

Decidi então pegar nesta situação e de a tentar transformar numa oportunidade. Uma oportunidade para me conectar novamente com a parte de mim que está sempre presente, mas muitas vezes, adormecida. Empurrada bem para o fundo de mim e deixada sozinha, que assim é que está bem. A arte, a escrita, um mundo mais criativo e mais instável, sem dúvida. Mas do qual eu sempre gostei e no qual nunca investi a sério. Agora, é o momento. Devagar, com calma, estou a fazer pequenas coisas que me trazem de volta às minhas origens e acima de tudo, pela primeira vez em dez anos, sinto-me mais perto daquela menina de dezoito, que correu atrás de um sonho contra tudo e contra todos.

Aquela Alexandra destemida, que escolheu a sua paixão e foi em busca dela para outro país. É certo que não correu como ela esperava, mas a verdade é que, na altura, foi uma escolha dela e fazia sentido. E desde então que tal não tinha acontecido. 

Pois agora, é o momento. Devagar, com mais cautela do que quando tinha dezoito anos, mas a tentar trazer de volta um pouco dessa menina destemida, que se permitia sonhar, falhar e ao fim do dia, erguer-se novamente para enfrentar o que dali viesse. 

Alexandra - Alex para os amigos

Alex, 29.01.25

Dar-me a conhecer é sempre uma coisa complicada para mim. Há até quem fique com a impressão de que sou arrogante (ou pelo menos, assim era há uns anos atrás, não sei se agora isso já mudou um bocado).

A verdade é que ser socially awkward é o meu nome do meio, por assim dizer. Não me dou bem em ambientes com muita gente, muito barulho, muitos estímulos e tenho a tendência a procurar refúgio dentro da minha mente. Talvez seja por isso que, ao longo da vida, as pessoas me dizem que é difícil chegar até mim. 

O que é certo é que, uma vez que consigam, sou um livro aberto. Muito transparente e bastante "simples". Ponho entre aspas, porque nenhum ser humano é simples. O simples está associado ao facto de não ser preciso muito para me agradar e me fazer feliz. Uma boa série na Netflix, um bom filme, uma viagem a West End para ver os "meus" musicais, boa comida e claro, uma Coca-Cola Zero, fresca, só com gelo (e não me perguntem se quero Pepsi se não têm Coca-Cola, por favor).

Ribatejana apenas de nascimento, fui filha única durante 8 anos, até que por fim os meus pais me brindaram com a irmã que sempre quis. Cresci a adorar livros, a inventar histórias e mundos que me traziam conforto - conforto esse que não conseguia encontrar no mundo real. A escrita sempre foi o meu refúgio, o meu porto seguro, até que se tornou no maior desafio da minha vida, que hoje tento aos poucos superar. 

Apaixonada pela praia, pelo mar, outrora nadadora cujo pai pensava que chegaria aos Jogos Olímpicos (talvez numa próxima vida, Paizão), o meu grande sonho é ter uma casinha perto da praia, de preferência na Ericeira, com um alpendre onde me possa sentar com a mulher da minha vida, para sermos aquelas velhinhas que vão comentando quem vai aparencendo. 

Uma mulher que gosta de mulheres, que se achava diferente e até "anormal", por nunca conseguir ter encontrado o amor no sexo oposto. Pois está claro, as lésbicas existem, e eu sou uma delas. A minha sexualidade nunca foi um problema, pelo menos junto dos meus, e por isso sou e serei sempre muito grata. 

Romântica incurável, apesar de muita gente não saber e não me catalogar como tal. Mas a verdade é que adoro um bom romance, daqueles cheios dos maiores clichés do mundo, que despertem as tais borboletas na barriga. Mas sou também muito fã de filmes de ação cheios de tiros, comédias parvas sem piada para muitos e musicais como o Wicked, cuja banda sonora tem tocado quase todos os dias cá em casa desde o seu lançamento em filme. 

Gosto de pensar que sou amiga do meu amigo, fiel, e acima de tudo, boa gente. Com defeitos, porque ao fim do dia sou apenas e só, humana. Gosto de um bom gossip e um bom reality show, não vou mentir, mas acredito que isso não dite o meu carácter. Gostos, são gostos!

Haveria muito mais para dizer sobre mim, certamente, mas para quem tem dificuldade em se descrever, acho que isto já vai longo. 

Sou eu, com tudo o que cabe em mim dos outros, pois acredito que nós somos também um bocadinho de todos aqueles que já passaram pela nossa vida - com tudo o que isso traz de bom e de mau. 

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Vamos lá outra vez?

Alex, 24.01.25

Nunca é tarde para (re)começar. Depois de muito debate interno, depois de vários dias a procrastinar e outros tantos a decidir o layout e o look perfeito para o novo blog, cá estou.

Outra vez. Sim, porque, este não é o meu primeiro blog, tão pouco o primeiro blog aqui na plataforma do "Sapinho". A verdade é que tive um blog durante muitos anos, onde partilhei muito da minha adolescência e inicio da vida "adulta". Por diversas razões, acabei por apagar por completo esse blog e, passado uns anos, resolvi tentar começar de novo. Acabei por não ser consistente com esse blog e, acabei também por apaga-lo. Por um lado, acho que isso só demonstra a minha atribulada relação com a escrita nos últimos anos. Não tem sido fácil e tem sido uma luta constante para me libertar.

Libertar-me das correntes de um passado que, aos poucos, deixa de me pesar. Um passado onde a escrita e a crítica, a falta de confiança, a vergonha, estão todas interligadas e emaranhadas, fazendo-me acreditar que não vale a pena. Não vale a pena eu insistir mais nesta coisa da escrita, que foi outrora a minha grande paixão. Não vale a pena começar novamente do zero, "empurrar com a barriga" e tentar forçar algo que já não me é natural. 

Porque a verdade é que, se dantes escrever era como respirar para mim, hoje em dia tal já não é uma realidade. Contudo, tenho aprendido que isso não é necessariamente uma coisa má. Que, há medida que vamos crescendo e ficando mais adultos, tudo requer esforço. Porque existe toda uma bagagem em nós que muitas vezes nos restringe. Existem circunstancias de vida que não existiam. Responsabilidades e deveres que pesam em nós e nos tiram, muitas das vezes, a vontade. Aquela vontade que existia na adolescente de quinze anos, de estar constantemente a escrever, a criar, a inventar. 

Hoje em dia é bem mais complicado do que isso. No entanto, cá estou, mais uma vez. Porque, de facto, isto é a única coisa há qual não consigo fugir. Aquela pedrinha pequena no sapato, que tem dias em que não se sente e outros, em que não conseguimos pensar noutra coisa senão nela. Não sei bem o que vai resultar deste espaço, mas a ideia é ser um refúgio. Para poder voltar, devagar, à escrita, para poder desabafar e largar pensamentos, opiniões e gostos. 

A ideia é ser um espaço livre. Para ser eu, sem me restringir, sem medos, sem vergonha. 

Será que à terceira é de vez?